Por que amamos tanto Telê Santana? Essa é uma pergunta que os São Paulinos sabem responder rapidamente, mas vamos aos fatos a seguir.
No futebol brasileiro, temos alguns esquadrões que marcaram época, como o Santos do Pelé ou o Flamengo do Zico, dois dos maiores gênios do nosso futebol, que acreditem, um dia foi recheado de grandes craques e impunha respeito pelo mundo, hoje, temos a seleção vídeo no TikTok.
No São Paulo, não foram gênios como Leonidas da Silva, Pedro Rocha ou Gérson que marcaram uma época e nos deram importantes títulos, mas sim, um técnico, que sempre amou o futebol arte, o espetáculo, o jogo bem jogado, nosso amado Telè Santana!
Por que amamos tanto Telê Santana? Porque ele é a essência do futebol brasileiro, que infelizmente se perdeu no jogo por uma bola, nesse burocrático e estático futebol que temos hoje, onde Gabigol é o craque do país. Essa é a realidade.
Nasce uma lenda
Mineiro de Itabirito, Telê começou a jogar futebol em 1949 no Fluminense, mas se profissionalizou em 1951 no time o qual ele nunca escondeu ser torcedor, Telê tinha personalidade, além disso, seu profissionalismo sempre ficou à frente do seu amor pelo tricolor carioca.
Mineiro como Pelé, Fluminense como Jô Soares, duas figuras que nos deixaram em 2022, mas que sempre serão um orgulho brasileiro.
Telê era ponta direita. Jogou até 1960 no Fluminense, depois passou 2 anos pelo Guarani, um curto período no Madureira e encerrou, em 1963 no Vasco da Gama, de forma precoce, aos 32 anos.
Durante alguns anos, Telê se aventurou como empresário, ficando longe do futebol, mas quem nasceu para o futebol, fica pouco tempo longe e depois de alguns convites, topou voltar ao seu time do coração.
Em 1969 ele assumiu a base do Fluminense, sendo campeão logo no primeiro campeonato, e com isso, foi alçado a técnico do time titular, onde venceu alguns campeonatos. Começava assim a carreira de um dos maiores técnicos do mundo, bem, vamos aos fatos, ao maior de todos! Telê se fosse europeu seria considerado o melhor, mas no Brasil, nada que é nosso é bom, sempre lá fora é melhor.
Carreira de sucesso
Diferente de outros técnicos, que foram campeões no Brasil de torneios importantes como estaduais, Copa do Brasil, Libertadores, Brasileiro e Mundial, Telê nunca treinou time médio ou pequeno, nada contra, afinal, todos começaram de alguma forma e treinar times pequenos, foi auxiliar técnico ou técnico da base, que é um aprendizado; técnico precisa ter disciplina, conhecimento e também experiência. Telê pulou essa fase, mas isso ocorre uma vez na vida, ele ficou apenas 1 ano na base do Fluminense, mas reforço:
Não é demérito algum que os grandes técnicos que tivemos tenham treinado times de menor expressão no cenário nacional, com todo respeito a todos os times, Muricy, por exemplo, passou por Náutico, Sao Caetano, Figueirense, times de respeito, mas que não entram em um campeonato como favoritos ao título.
Depois da sua passagem vitoriosa pelo Fluminense, treinou o Atlético-MG, São Paulo, Atlético-MG, Botafogo, Grêmio, Palmeiras, Seleção Brasileira, Al-Ahli, Seleção Brasileira, Atlético-MG, Flamengo, Fluminense, Palmeiras, São Paulo e Palmeiras. A sequencia de times que ele treinou foi essa, por isso, você leu mais de uma vez alguns dos nomes.
Apenas Botafogo e Palmeiras não tiveram taças levantadas comandas pelo mestre, para verem, nem Telê Santana conseguiu dar um mundial para o Palmeiras…
Em 1980, depois do seu Palmeiras golear o Flamengo que tinha Zico como um dos craques, seu nome foi cotado para a Seleção Brasileira que disputaria, na Espanha, a Copa de 1982, pois o mestre já era observado para ocupar um cargo tão importante. Já tinha feito por merecer.
Copas do Mundo
Telê não montou uma seleção, ele montou a maior seleção de todos os tempos. Se na seleção de 1970 tinha Pelé e mais alguns craques como Gerson, Jairzinho, Rivelino, Tostão, Clodoaldo e Carlos Alberto Silva, na seleção de Telê eram 11 craques, com Waldyr Peres, Leandro, Oscar, Luisinho, Junior, Falcão, Cerezo, Sócrates, Zico, Serginho e Eder.
Nunca uma seleção teve, ou terá, 11 craques de altíssimo nível juntos, uma pena, que os Deuses do futebol não quiseram que esse time conquistasse o, na época, tetra campeonato para a Seleção Brasileira.
O sucesso da seleção foi tanto, que em 1986, Tele foi chamado para novamente comandar o Brasil em uma copa, levou alguns dos craques de 1982, em uma seleção ótima, mas abaixo da espetacular de 1982, e mais uma vez, ele não venceu, o que lhe rendeu o péssimo e injusto apelido de “pé frio” como se a culpa das duas copas tivesse sido dele, e não do passe errado do Cerezo ou o Zico perdendo um pênalti, mas isso infelizmente acontece no futebol.
No São Paulo, sua obra de arte
Depois de uma carreira de muito sucesso no futebol brasileiro, só treinando times grandes e conquistando títulos importantes e quase todos eles, coube, ao São Paulo ser a “Monalisa” do Telê, ou seja, a sua grande obra prima.
Em uma época em que Libertadores não tinha a mesma importância que hoje, Telê disputou 4 com o tricolor, vencendo 2 e chegando a uma final na 3a, ou seja, 3 finais consecutivas de Libertadores, uma pena que um juiz mal intencionado nos tirou a 3a Libertadores seguida, e o Palhinha também…
Telê colocou o São Paulo no cenário mundial, por dois anos, o tricolor foi o maior time do mundo. Por que amamos tanto Telê Santana? Porque o mestre colocou o tricolor no cenário mundial!
Ganhamos dos poderosos Barcelona e Milan; e não adianta dizer que os europeus não estavam ligando para o jogo, porque jogador não quer perder nem par ou impar! Entrou em campo, até amistoso é jogado como final de Copa do Mundo!
Em tempo, essa é a minha foto ao lado de Renê Santana, filho do mestre, que esteve na inauguração da estátua de seu amado pai.
Por que amamos tanto Telê Santana? Porque coube ao mestre projetar o São Paulo para o mundo, transformar o até então “irmão do Sócrates”, Raí, em um craque que era mal aproveitado no tricolor.
Recuperou Zetti que foi expulso do Palmeiras depois de quebrar a perna, fez Cafú ser um lateral que disputou 3 finais de Copa do Mundo, transformou Ronaldao em um zagueiro de confiança, convocado para a Copa de 1994, recuperou Alemão e Cerezo, em final de carreira, enfim, a lista de coisas que Telê fez pelo tricolor vai muito além de títulos, sempre importantes, claro!
Não há tricolor que conheça a história do São Paulo que não tenha um grande amor pelo Telê Santana, até porque ele é o responsável por outro grande técnico da nossa história Muricy Ramalho, foi Telê, em 1994 que trouxe Muricy para um projeto em que esse seria preparado pelo mestre por 4 anos para o substituir no tricolor, mas a doença, isquemia, não permitiu esse projeto ser concluído com sucesso.
Telê era rabujento, todos sabem, mas era um paizão! Todos os jogadores que ouviram seus conselhos em aplicar o dinheiro ganho, estão bem, os rebeldes estão sempre sem dinheiro. Isso é visível hoje, Ronaldão, por exemplo, na entrevista que concedeu ao livro “Ao Mestre com Carinho, o São Paulo da era Telê”, me disse que ele poderia parar de trabalhar logo depois que se aposentou, pois ele ouviu o Telê e investiu o dinheiro ganho.
Por que amamos tanto Telê Santana?
Os mais de 22 milhões de tricolores espalhados pelo mundo, que conhecem o tricolor não tem como não amar Telê, ele foi um sujeito duro, bravo, mas muito justo.
Tem histórias de sucesso e fracasso, como todos, mas nunca abriu mão do futebol, hoje, se vivo estivesse, com quase 92 anos, estaria muito triste ao ver essa geração TikTok e a “Titetização” do futebol burocrático por uma bola que é jogado hoje no Brasil.
Por que amamos tanto Telê Santana? Porque hoje, se vivo estivesse, seria um grande crítico desse futebol péssimo que tomou conta do país, porém, não sei se ele estaria tão ativo para aguentar os analistas de YouTube…
Telê, não foi o melhor técnico do Brasil, ele foi do mundo. Hoje, o melhor técnico em atividade, Guardiola, joga inspirado no São Paulo que ele enfrentou em 1992, quando era o volante do Barcelona, o que tomou um chapéu de Raí, de calcanhar, logo no começo do jogo.
Johan Cruijff, técnico daquele time, naquela final, afirmou ter sido atropelado por uma Ferrari. Telê é uma referencia para quem ama o futebol.
Enfim, a estátua merecida
O ano era 2006, o Brasil curtia o feriado de Tiradentes, 21 de Abril, mas naquele dia, especificamente, os tricolores estavam de luto, partia, depois de quase 10 anos lutando contra a isquemia cerebral, o maior técnico da história do São Paulo Futebol Clube, aquele, que conquistou mais de 30 títulos nos pouco mais de 5 anos no comando do São Paulo.
Desde então, o São Paulo sempre sondou algumas homenagens ao mestre, mas nunca o projeto foi para frente; eu humildemente, escrevi o livro que conta os bastidores da história do mestre no São Paulo, mas isso é muito pouco por tudo o que ele fez.
Ontem, 25 de Janeiro de 2023, eu estava no Morumbi! Vi de perto a emoção que foi a estátua que ficará de frente ao estádio! Toda a homenagem é justa, mas sendo bem sincero, ainda é pouco para devolver a memória do mestre tudo o que ele fez, mas, reforço a estátua foi um importante passo para uma justa homenagem.
Espero que o projeto de mudar um trecho da rua no entrono do Morumbi para Av. Telê Santana saia do papel, outra justa homenagem a quem tanto fez pelo tricolor.
E antes que me questionem, sim, eu acho que o Muricy Ramalho merece a mesma coisa, pois ele é, sem dúvida, o cara mais identificado com o tricolor, é incrível o amor que a torcida tem por ele, e claro, ele pelo nosso São Paulo Futebol Clube!
O momento mágico, quando as cortinas caem e a obra aparece!