O que falta para sermos campeões? Esse é o tema que me motivou a escrever esse artigo hoje. Esse blog não tem uma periodicidade de artigos diários, um dos motivos é a falta de tempo, outro, é que esse não é um blog informativo, como tem tantos por ai, mas sim, um de opinião, a minha claro, mas isso não impede de, educadamente, você comentar, os educados eu respondo, os mal educados eu deleto. Simples assim.
Eu não sou jornalista, aliás, pelo baixo nível dos que temos hoje, eu posso dizer que ainda bem que optei por outro rumo da comunicação, a publicidade, que é muito mais a minha cara; até comecei como redator, pela minha paixão em escrever, mas na faculdade acabei conhecendo o planejamento e me identificando mais, porém, com mais de 8 livros publicados – e mais 2 no forno – e mais de 1,5 mil artigos publicados em sites do mercado publicitário, blogs de clientes e até mesmo nos meus blogs, esse e o meu pessoal, onde conto mais da minha carreira.
Fiz essa introdução, para dizer, que no meu dia a dia, eu trabalho com dados e pesquisas, isso que movimenta o meu trabalho. Montar uma estratégia de comunicação, marketing, branding ou inovação para um cliente é muito legal, mas sem dados e pesquisas, é um grande chute, e grandes chutes acabam não dando resultado ao cliente. Simples assim.
Eu vejo muita semelhança entre futebol e marketing, ambos tem um elo em comum, a estratégia. Me lembro, em 2004, na minha pós graduação em planejamento estratégico em comunicação, na Universidade Metodista de SP, o trabalho de um dos módulos era dar uma aula de 10 minutos. Mesmo eu estando adaptado a sala de aula, quando fui para a lousa fiquei nervoso demais, foi a minha primeira aula, mal sabia eu, que , quase 20 anos depois, eu iria dar aula em MBAs como ESPM, USP, Faap, FGV, Senac, Belas Artes…
A minha aula foi o comparativo estratégico entre o SPFC e Real Madrid. Simulei as escalações e fui mostrando como os times poderiam anular os pontos fortes e se sobressair nos pontos fracos, que na comunicação é isso que fazemos, mas para fazer isso, é preciso de muito estudo e análise de dados. Bem, chega de auto promoção e vamos aos fatos, dados e pesquisa para embasar o estudo.
Pesquisa para o artigo
Fui levantar os títulos do São Paulo desde 1977. Obviamente temos uma história antes desse período, mas eu fiz esse recorte, por considerar que temos os mais importantes títulos depois do Brasileiro daquele ano, lembrando, que até a década de 70 os campeonatos regionais eram os principais do calendário e entender: o que falta para sermos campeões?
Naquele time tínhamos como destaque Waldir Peres, Getúlio, Chicão, Zé Sérgio e Serginho Chulapa (que não jogou a final). No banco, Rubens Minelli. Fomos campeões nos penaltis, contra o Atlético Mineiro.
Em 1980, com uma vitória por 1X0 sobre o Santos, o São Paulo se consagra campeão paulista. Naquele time, tínhamos grandes destaques como Waldir Peres e Getúlio, os mesmos de 1977. A maior dupla de zagueiros da história do futebol estava armada, Oscar e Dario Pereyra (esse em 1977 ainda era meio campista, sem muito destaque, foi ser um monstro na defesa). Serginho e Zé Sérgio formavam a dupla de ataque, mesma de 1977 e Carlos Alberto Silva nos comandava.
No bi campeonato de 1981, o técnico era outro e o tricolor contava com o reforço de Mário Sérgio, além dos acima já destacados. A Ponte Preta ficou com o vide.
Surgem os Menudos
O título de 1985, Paulista, vencido em cima da Portuguesa, foi emblemático, pois dava vida ao que iríamos conhecer como “Os Menudos do Morumbi”, alusão a banda Menudos, sucesso mundial. Aquele time era todo destaque, Cilinho nos comandava, Falcão chegava para ser o grande craque, Gilmar substituia Waldir Peres, a grande defesa de Oscar e Dario era mantida e ainda tínhamos um ataque com, para mim, a maior dupla de ataque que tivemos: Muller e Careca.
Sob o comando de Pepe, o tricolor despachou o Guarani em 1986, na histórica final, com o gol mais emocionante da nossa história, Careca o fez faltando 10 segundos para acabar o jogo. Não digo ter sido esse o mais importante, mas sem dúvida, o mais emocionante gol da nossa história. Naquele time, os destaques eram quase os mesmos de 1985.
Até aqui, você já entendeu a resposta para a pergunta: O que falta para sermos campeões?
Em 1987, o time pouco muda. Careca vai fazer história na Itália e um ponta esquerda desponta como craque, Edivaldo! Cilinho continua no comando, Lê vem para substituir Careca, bom jogador, mas longe de ser o craque que Careca foi. O Corinthians é o time que fica com o 2o lugar.
O Paulista de 1989, contra o São José, mostra um time bem mudado. O sucesso dos Menudos chamou a atenção do mundo. Oscar vai encerrar a carreira no Japão, Dario vai para o Flamengo, Muller para a Itália, Silas e Pita para a Europa, Sidney para o Santos. Chegava do Guarani um ótimo zagueiro que substituiu a altura Dario, tratava-se de Ricardo Rocha. Bobô vinha com status de craque do Bahia e um jovem camisa 10 começava a despontar, Raí, que em poucos anos se tornaria o Rei do Morumbi.
Em 1991, frente ao Corinthians, com um show de Raí, ganhando nessa final o apelido de Rei do Morumbi, o tricolor já comandado pelo mestre Telê Santana, tinha alguns nomes de peso: Zetti já era nosso goleiro, Muller estava de volta, Antonio Carlos na defesa. O time estava mudado frente ao que tinha sido campeão brasileiro no primeiro semestre daquele ano, que tinha Ricardo Rocha e Leonardo, ambos foram vendidos para a Europa, e Zé Teodoro vendido ao Guarani.
Entre os anos de 1992 e 1994, ganhamos praticamente tudo. Telê no banco, Raí no comando, Zetti no gol. Muller no ataque, Palhinha entre o meio e ataque, Ronaldo Luis e André Luiz, na lateral esquerda, Cafú e Vitor pela direita. Pintado no meio como o jogador de raça, a elegância e experiência de Toninho Cerezo no meio de campo. Eram a base do time, esses destaques.
Em 1998, o tricolor totalmente modificado versus aquele timáço do começo dos anos 90. Telê já tinha se aposentado, Zetti tinha saído dando espaço para aquele que se tornaria o maior conquistador de títulos do tricolor, 95% deles como protagonista, Rogério Ceni. Raí voltava da Europa, Serginho era um gigante na lateral, Márcio Santos um grande zagueiro. França arrebentando no time e Denilson, a grande jóia da base fazia a mescla do time comandando por Nelsinho Baptista, um ex-lateral direito do próprio SP, que era um dos melhores técnicos do país, naquela época, mais uma vez, o Corinthians se tornava a nossa vítima.
Vieram os anos 2000…
Em 2000, Raí e Rogério eram os comandantes de mais um título do Paulistão. Levir Culpi estava no banco, o tricolor tinha um habilidosíssimo meia chamado Vagner, que só não foi maior porque a cabeça de minhoca era mais forte que o talento, era, com cabeça titular da seleção brasileira com facilidade. A experiência de Raí somou a de Evair, camisa 9 de extrema qualidade. O Tricolor mesclava experiência e juventude com Edu no ataque, Fábio Aurélio na defesa e Maldonado no meio de campo. Ainda tinha o habilidoso Marcelinho Paraíba.
Em 2005, o tricolor ganhou tudo. Rogério Ceni era o comandante do time, que tinha um camisa 10 chamado Danilo. Nas laterais, duas feras, Cicinho e Júnior. Lugano era a raça na defesa, Mineiro e Josué a efetividade o meio campo e Amoroso o craque talentoso na frente. Paulo Autuori e Leão foram os técnicos daquele ano. Fabão era o zagueiro, que assim como Ronaldão foi por anos, era o questionado, mas muito eficiente, O que falta para sermos campeões? Vamos ver mais a frente, mas aqui você tem mais algumas pistas.
O Tri Muricy veio e com aquele time, tínhamos solidez. Mais uma vez, Ceni era o nosso comandante, tínhamos uma defesa com Lugano, André Dias, Fabão, Rodrigo, Breno e Miranda. Excelentes zagueiros ao longo desses 3 anos do título. Cicinho e Ilsinho na direita, Junior e Jorge Wagner pela esquerda. Mineiro e Josué, depois Hernanes e Richarlysson dupla efetiva. Dagoberto, Borges, Aloísio Chulapa no ataque. O time era sólido e comandado pelo grande Muricy Ramalho. Danilo e Hugo eram os armadores do time, nunca foram craques, mas eram, principalmente o Danilo, muito decisivos.
Em 2012, Rogério nos comandava, e Lucas fazia um ano memorável no ataque. Ney Franco, depois de ter feito um excelente trabalho na seleção de base do Brasil era o comandante. Cortéz na lateral, veio a peso de ouro por trabalhos no Botafogo e seleção, Rodolpho e Rafael Tolói era a dupla que na raça segurava. Denilson era nosso volante com saída de jogo e Oswaldo era o atacante rápido.
Por fim, em 2021, sob o comando de Hernan Crespo, frente ao Palmeiras, o tricolor venceu por 2X0. Rogério já aposentado não era mais o nosso goleiro e coube a “molecada da base” ser o pilar daquele time. Arboleda é um monstro de zagueiro, Miranda dava a experiência necessária ao time, de todas as conquistas, essa foi a que tivemos um goleiro mediano, mas que fez um grande campeonato daquele ano. Luan, Nestor, Lizieiro, Sara, Igor Gomes eram os “Made In Cotia” que movimentavam aquele time.
O que falta para sermos campeões?
Vamos analisar as pistas.
Waldir Peres, Gilmar, Zetti e Rogério: sempre fomos campeões com um craque debaixo das traves (exceto em 2021)
Oscar, Dario Pereyra, Miranda, Ricardo Rocha, Antonio Carlos: nossa zaga sempre teve, ao menos um fora de série.
Cicinho, Junior, Getúlio, Cafú, Nelsinho, Serginho: sempre tivemos, pelo menos um grande lateral no time.
Cerezo, Falcão, Mineiro, Josué, Chicão: na maioria dos títulos, tivemos um, ou dois, volantes de muita qualidade.
Pedro Rocha, Danilo, Raí, Leonardo, Hernanes, Pita: vencemos os títulos com um camisa 10 genial, efetivo e de muita qualidade.
Muller, Careca, Denilson, Serginho Chulapa, Borges, Dagoberto, França: sempre tivemos um ataque efetivo, goleador e que resolvia o jogo.
Muricy, Telê, Cilinho, Pepe: no banco de reservas, sempre um técnico de ponta.
Nossa espinha dorsal
Claro que analisando friamente assim é fácil falar que só colocar 11 craques que o time vence, bem, infelizmente, em 1982 a melhor seleção de todos os tempos, mostrou que não é bem assim, mas vamos aos fatos.
O São Paulo sempre precisou, para ser campeão de:
Um goleiro diferenciado
Um defensor de qualidade
Um volante que protegia tudo
Um camisa 10 genial
Um ataque efetivo
São 5 posições que constroem e espinha dorsal de um time.
Para mim, hoje, não temos os mesmos talentos de outros anos, jamais podemos imaginar que teremos no futebol brasileiro de hoje, jogadores do talento de Pedro Rocha, Raí, Muller, Dario Pereyra, Zetti, Oscar, Careca, Pita entre outros, mas o São Paulo, analisando pela ótica das pesquisas e dados – por isso a importância de defender no começo desse artigo o meu pensamento de planejamento – vejo um futuro bem promissor.
No papel tudo é lindo
Então vamos lá:
Um goleiro diferenciado – Rafael não é o Zetti, mas tem se mostrado diferenciado e faz o impossível, o que um bom goleiro faz.
Um defensor de qualidade – Arboleda há anos é o melhor zagueiro atuando no Brasil (ao lado do Gustavo do Palmeiras) e estamos diante de um talento sendo polido, Beraldo, ainda cedo, mas se mantiver o foco e a determinação tem tudo para ser um dos grandes da posição dentro da sua geração.
Um volante que protegia tudo – Luan era o cara, mas perdeu o foco e a posição para Pablo Maia que já foi eleito o melhor do mundo em sua categoria, deu uma leve oscilada, mas agora se mantém firme. Como Beraldo, cedo para falar. Como um 2o volante, tendo uma sequencia sem lesão, Gabriel Neves é diferenciado.
Um camisa 10 genial – Esse nos falta. Estão falando de James Rodrigues, acho pouco improvável, mas torcendo demais.
Um ataque efetivo – Marcos Paulo tem sido uma grata surpresa, Calleri é o nosso camisa 9, mesmo nesse momento estando em má fase e Pato chega para dar uma nova cara.
Dorival não é o Muricy ou Telê, mas tem se mostrando um excelente técnico, fez um trabalho fantástico no Flamengo no ano passado e estamos torcendo para fazer o mesmo por aqui, por hora, estamos indo muito bem nas 3 competições que estamos.
Falcão, Miranda, Cerezo, Raí. Por algum momento eles foram a experiência que o time precisava, a pessoa para tomar a bola e acalmar o jogo, para orientar. Esse elemento, no tricolor de hoje, nos falta. Talvez Pato possa ser esse elemento, da experiência, vamos esperar, mas isso é fundamental no time do tricolor, desde Leonidas da Silva na década de 40.
Beraldo, Pablo Maia, Nestor, Luan hoje é quem melhor está no time, pensando em jogadores da base. Thalles, Juan e Caio podem nos dar alegrias, Diego Costa acabou o ano muito bem e espero que volte igual dessa lesão, aos poucos, vai melhorando. A junção da experiência com a base é uma fórmula no São Paulo bem efetiva, em 1985 por exemplo, Falcão era o cara para comandar Muller, Silas, Bernardo, por exemplo.
Pedro Rocha, Dario Pereyra, Lugano, Arboleda. O time ganhou muitos títulos com estrangeiros no elenco, avalio que temos nesse time, talvez a maior legião estrangeira da nossa história, alguns como Galoppo, Calleri, Arboleda, Ferraresi e Gabriel Neves, muito efetivos, Alan Franco oscila demais, Mendez perdeu posição. Orejuela é piada de mal gosto, aliás, esses poderia sair do tricolor o quanto antes.
Em resumo
Caramba, esse artigo ficou gigante!!!
O que falta para sermos campeões? Vamos a um rápido resumo do atual elenco:
O tricolor precisa de um goleiro de qualidade, temos com Rafael, mas não temos um substituto a altura.
Nas laterais não temos qualidade. Na direita, Rafinha é o Reinaldo piorado, Igor Vinícius é um jogo bom para 10 péssimos, Orejuela e Raí Ramos nem comento. Nathan poderia ter ficado no sul. João Moreira é quem eu mais aposto. Caio Paulista vem em uma crescente, é bom isso, mas longe de ser o certo, mas se evoluir pode se garantir, Patryck é novo ainda e Welligton é filhote do Reinaldo, pode ir para outro time. O Grêmio não quer?
Na defesa temos o nosso melhor setor, com Arboleda e Beraldo. Diego Costa e Ferraresi voltando com a mesma qualidade, pode mandar Alan Franco embora.
Meio de campo temos bons volantes como Pablo e Luan, e dois jogadores para fazer o segundo homem, Gabriel Neves e Nestor (esse se quiser jogar). Thalles Costa ainda é uma aposta e Mendez perdeu espaço, outro que pode ir. Rato é aquele jogador efetivo que pouco aparece para a torcida, Araujo tem se encaixado aos poucos.
No ataque, a chegada do Pato trará qualidade. Marcos Paulo e Calleri, mesmo em baixa, estão dando conta do recado. Luciano é o jogador para torcida, seria bom se ele fosse o craque que pensa ser, David, bom, vamos ver como vai se sair depois da lesão.
O que esperar?
Temos alguns dos pontos que sempre foram essenciais para títulos, dentro dos atuais padrões do futebol nacional, temos. Para hoje, no baixíssimo nível do nosso futebol, temos um goleiro de qualidade, uma dupla de zaga ótima, um meio de campo brigador e um ataque efetivo e um técnico de ponta.
Não temos um meia habilidoso e decisivo, não temos um jogador experiente e vencedor, o que nos deixa longe da mescla que sempre deu resultados. Precisamos ter menos contusões para o time ganhar a famosa “liga” entre os jogadores.
O que falta para sermos campeões? Dá para sonhar com o título, sem dúvidas, pelo menos o da Copa do Brasil, o que ainda não temos. O Brasileirão, vai depender de como Flamengo e Palmeiras vão se dedicar a Libertadores, temos um caminho, mas ainda tem alguns meses até lá!